
Nello Morlotti
A violência de domingo também deve levar a imprensa esportiva de Curitiba a fazer uma reflexão. Sobretudo, pelo espaço que concede às torcidas organizadas e seus representantes. Alguns viraram celebridade, se elegeram a cargos públicos e têm até programa de TV e coluna em jornal, onde aparecem incitando a rivalidade. Esse espaço na mídia subverteu o grau de importância perante os torcedores.
Hoje, a grife da torcida organizada vende mais do que a camisa do clube. As sedes das torcidas organizadas têm mais associados que os clubes. Os chefes das torcidas organizadas são tratados como os representantes legítimos dos clubes. Acima do bem e do mal, e com o “OK” da imprensa, eles perderam a noção de limite e o fato é que os clubes viraram reféns.
Pior: os dirigentes se tornaram coniventes para não se incomodarem. As torcidas organizadas pedem dinheiro, e ganham. Conseguem reuniões com presidentes na hora que querem e têm boa parte de suas reivindicações atendidas. Em troca, prometem a festa nos estádios. Mas a que preço? Domingo se viu o custo desta simbiose perigosa, da qual o Coritiba não é a única vítima.
Recapitulando o que ocorreu este ano, se vê que Atlético e Paraná Clube padecem do mesmo mal. Quem não lembra de torcedores organizados invadindo a Vila Capanema para ameaçar jogadores? Eu mesmo sou vítima e tive de tomar medidas para preservar minha integridade física. E o que falar do Atletiba das bombas?
É hora de dar um basta a essa inversão de valores e a imprensa não pode se omitir de contribuir para isso. Os distúrbios de domingo devem servir para pôr uma pá de cal nas organizadas e em suas ramificações. Os verdadeiros torcedores de Atlético, Coritiba e Paraná Clube não vão sentir falta delas e os estádios, provavelmente, vão ganhar uma nova matiz. Xô violência! Ela não pode continuar sendo sustentada em nome da audiência e da venda de alguns exemplares a mais.
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