
Nello Morlotti
Há 3 anos, o ex-governador Roberto Requião estava com a caneta na mão para indicar o Pinheirão como o estádio para sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, em Curitiba, quando uma manobra política, decidida nas salas secretas da Assembleia Legislativa – a mesma que hoje é açoitada por denúncias e mais denúncias de corrupção – demoveu o governante. Requião lavou as mãos e o vice Orlando Pessuti assinou a carta de intenções a favor da Arena da Baixada.
Nesta terça-feira, os jornais revelam que o Atlético não tem condições de bancar as obras exigidas pela Fifa para adequar o estádio. Os dirigentes atleticanos abriram o coração: o clube precisa de dinheiro público para, praticamente, construir um novo estádio. Só que trata-se de um patrimônio privado, cujas leis impedem que receba recursos que são de todos os paranaenses. Por mais que a boa vontade política sugira que haja brechas na lei, será muito difícil concretizar essa manobra. Só eu sei de pelo menos três ações prontas para irem à Justiça, a fim de embargar a “ajuda”, caso ela saia.
E mais: o Atlético, sentindo o peso da responsabilidade que lhe foi imputada, já está praticamente desistindo desta louca aventura. Ora, nesta hora, o bom senso pede que seja pensando um plano B. Ou melhor, que se voltem as atenções para o plano A, que era construir um estádio novo no terreno hoje ocupado pelo Pinheirão. Em Curitiba, não existe área melhor. Além disso, sem manobras políticas, o local seria facilmente transferido para o aparelho público. Sem contar que, já que é para gastar dinheiro público, a obra sairia muito mais barato.
O Atlético calcula a readequação da Arena em, pelo menos, R$ 150 milhões. No caso do Pinheirão, se gastariam R$ 132 milhões. Seriam R$ 67 milhões para zerar as dívidas – muitas delas negociáveis - e transferi-lo para o município, e mais 65 milhões para erguer uma arena com 40 mil lugares. Outra vantagem é que, com um novo estádio público, finalmente se conseguiria o consenso entre a população de Curitiba sobre a Copa. Hoje, o evento é visto apenas como uma exclusividade atleticana.
Mais: o barateamento da obra e a união em torno do mundial não seriam as únicas vantagens trazidas pelo novo estádio. Haveria também a revitalização de uma região da capital que raramente é lembrada pelos poderes públicos. Recentemente, a RPC transmitiu reportagem mostrando que o abandono do Pinheirão levou graves problemas de segurança pública ao entorno do estádio. Sem contar que a pista de atletismo no estádio, que poderia servir para formar atletas, está sendo engolida pelo mato.
Por isso, diante de todo o imbróglio que envolve investir na Arena, a hora de se despir de vaidades é agora. Basta admitir que a indicação do estádio atleticano foi apenas para satisfazer questões clubísticas e não de interesse público. Ainda restam dois anos e meio para que as obras sejam entregues. Se a decisão for tomada agora, ainda dá tempo. Com um estádio público no local hoje ocupado pelo Pinheirão, Curitiba vai agradecer.
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